quarta-feira, 16 de junho de 2010

Testemunho: a minha adolescência

Ainda hoje comentamos que a adolescência foi feita para aborrecer as pessoas.
E é mais ou menos isso.
É um período de revoltas, de mudança e de interrogações.
É um período em que podes estragar a tua vida numa acção.
É um período de pressões e adrenalina.


Podes sentir-te o rei da montanha ou um completo idiota.
Tens a necessidade de ser melhor e demonstrá-lo.
Sofres e fazes sofrer.
A adolescência é tão masoquista.
       O que leva uma pessoa a revoltar-se contra tudo e a questionar aquilo em que outrora acreditava? Muitas pessoas têm teorias sobre isto mas minha opinião deviam parar, os adolescentes são criaturas incompreendidas.
       Embora também me enquadre nessa categoria, não compreendo os miúdos de liceu. Preferem o “High School Musical” ao “Forrest Gump”, o “Matemáticas Assassinas” ao “Monte dos Vendavais”, o Justin Bieber ao Brad Pitt… É mais interessante conversar com adultos, mas ao mesmo tempo tenho necessidade de partilhar momentos ridículos com os meus amigos.
       Os miúdos sentem-se tentados a fumar, beber, experimentar drogas, e, eventualmente, morrer.
       Lembro-me duma senhora qualquer que se gabava de seu filho à minha mãe: “O meu filho é um exemplo.” A única coisa que ela não sabe é que ele fuma pelo menos um maço por dia.
       Sinto-me quase agradecida por nunca ter tocado em nada disso, pois estragar a vida aos 12 é a pior coisa de que me consigo lembrar.
       Eu tenho sonhos que podem parecer idiotas: eu sei que o sucesso é muito difícil de atingir, mas estou disposta a fazer o que for preciso. O meu maior sonho é dançar todos os papéis clássicos antes dos 21 anos, tem piada não? Uma miúda do interior como prima bailarina?
       Nunca desisti, e faço aproximadamente quatro viagens de 50 minutos por semana para perseguir esse sonho. Não sei bem porquê nunca quis desistir, nem quando dancei pela primeira vez em pontas, embora parece-se ter enfiado os pés num picador de gelo.
       Vejo o mundo dos adultos como uma coisa fingida, ao fim ao cabo, são mais crianças do que eu. (...)
       Incomoda-me que a vida de muitos dos adolescentes gire à volta dum computador, dum telemóvel, ou de outra qualquer dependência, é só um ecrã… uma coisa que não alimenta nem sacia ninguém… e mesmo assim choramos, rimos, sentimo-nos felicíssimos ou como um animal subterrâneo em frente dele.
       E depois há Deus… não sei. Eu tenho alguma dificuldade em acreditar naquilo que não vejo. Considero a fé uma dádiva, e há pessoas que simplesmente ainda não a receberam, conheço pessoas que acreditam tão fielmente nisso, que quase me parece um insulto que eu tenha tantas dúvidas sobre Deus, por isso prefiro por me um pouco à parte nesse tema. Jesus foi um revolucionário, e eu concordo plenamente com o que ele disse, mas porque não podia ser puramente um revolucionário? Porque não podia ser apenas uma boa pessoa, um homem? Porque associamos o bem dele à divindade?
       Lembro-me também de quando reparei pela primeira vez na minha pele cheia de altos e zonas vermelhas, acho que passei duas semanas em choque. Afinal que preocupação é esta que temos com a imagem?! Que malditos estereótipos são estes que criamos? A verdade é que ninguém consegue atingi-los. Não existe nenhuma mulher tão perfeita como a Lara Croft nem nenhum homem tão fantástico como o Edward Cullen.
       Eu não consigo definir a adolescência em poucas palavras, mas tenho a certeza de que me vou lembrar dela daqui a vinte anos.

Ana Rute Gomes, nº7, 7ºA

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