quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A lama que atiramos cai-nos na roupa!!!

       Um dia o Zeca regressou da escola cheio de raiva. Antes que o pai lhe perguntasse alguma coisa, gritou irritado:
       - O Pedro não devia ter feito aquilo para comigo. Humilhou-me à vista de todos. Quero que ele sofra como eu. Quem me dera que ele parta uma perna...
       O pai escutou tudo calado enquanto caminhou para o fundo do jardim onde guardava um saco cheio de carvão. O Zeca viu o saco aberto e o pai a propor-lhe:
       - Filho, faz de conta que aquela camisa branca a secar no varal é o amigo que te ofendeu e cada pedaço de carvão é uma acusação que tens contra ele. Atira-lhe este carvão todo.
       O miúdo achou a brincadeira divertida e descarregou assim a sua fúria mas a camisa estava longe demais e poucos pedaços acertaram o alvo. No final sentiu-se cansado mas satisfeito por ter conseguido alguma coisa. O pai levou-o então até ao espelho do quarto onde pôde ver a sua figura toda suja de carvão. Só enxergava os dentes e os olhos. O pai concluiu ternamente:
       - Filho, viste que aquela camisa quase que nem se sujou mas, olha para ti. O mal que desejamos aos outros é aquilo que nos desfigura. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com as nossas acusações, a borra, os resíduos e a fuligem ficam sempre em nós mesmos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Quando acaba a noite... e começa o dia!

       Um Sábio fez um dia aos seus alunos a seguinte pergunta:
       - Como é que se pode reconhecer o momento exato em que acaba a noite e começa o dia.
       Um deles respondeu:
       - Talvez quando já não se consegue distinguir um cão de uma ovelha.
       - Não.
       Um outro disse:
       - Quando se distingue um figueira de uma oliveira.
       - Também não.
       Seguiram-se outras respostas e o velho Sábio ia respondendo que não. Foi então que eles pediram:
       - Diga-nos então quando é que se pode reconhecer o momento exato em que acaba a noite e começa o dia.
       Ele respondeu:
       - É quando tu, ao olhares para o rosto de uma pessoa qualquer, reconheces nela um irmão ou uma irmã. Antes de chegares a esse ponto, é ainda noite no teu coração.

In revista Juvenil, n.º 552, fevereiro 2012.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A pressa da cerejeira jovem

       Na colina da aldeia havia algumas cerejeiras. A primavera ainda estava longe, mas os habitantes esperavam ansiosamente por verem desabrochar as delicadas flores brancas, coloridas de rosa.
       Junto de uma velha cerejeira havia uma outra ainda muito nova. Mas ela tinha uma imensa pressa de crescer, para mostrar a beleza das suas flores.
       A jovem cerejeira perguntava muitas vezes à mais velha:
       - Quando posso florir? Falta muito tempo?
       Ela respondia-lhe sempre:
       - Tens de ter paciência, cara amiga. Na natureza há leis a cumprir. Espera pela tua hora. Verás que, quando terminar o inverno, florirás. Serás bela como uma noiva. Depois virão as primeiras cerejas. Por agora, tens de ter paciência.
       A jovem cerejeira, embora lhe custasse muito esperar, suspirava:
       - Está bem!
       Um certo dia de fevereiro amanheceu com um sol radioso. Parecia mesmo um dia de primavera.
       A jovem cerejeira, ao princípio da tarde, perguntou:
       - Já posso florir?
       A velha cerejeira, indisposta, disse:
       - Uff! Vós, as grandes, sois sempre assim! Só sabeis dizer que é preciso ter paciência. Estou farta de vos ouvir! Está um maravilhoso e, a partir de agora, serei eu a mandar em mim.
       E foi assim que dos botões da jovem cerejeira despontavam belíssimas flores. As pessoas passavam por ali e ficavam maravilhadas ao contemplar essas flores brancas coloridas de rosa.
       A jovem cerejeira sentia-se feliz, contemplando-se a si própria e admirando a sua beleza. Era na paisagem a única cerejeira florida.
       Infelizmente, esses dias de sol primaveril duraram pouco tempo. Veio de novo o frio e o gelo, queimando todas as suas flores. Tinha querido ser adulta antes do tempo e estragou a vida.

In revista Juvenil, n.º 552, fevereiro 2012.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

São sementes... que se tornam árvores!

       Uma pinha madura desprendeu-se de um ramo e rolou pela encosta da montanha. Bateu contra um rochedo e foi parar a um terreno húmido.
       Muitas sementes saíram de dentro da pinha e caíram na terra. felizes, exclamaram:
       - Chegou a nossa hora!
       Começaram com entusiasmo a aninhar-se no terreno. Mas, quando chegou o momento de germinar, descobriram que, por serem tantas, sentiam-se incomodadas por estar tão juntas. Uma delas dizia:
       - Chega-te mais para lá.
       A outra, irritada:
       - Não. Afasta-te tu.
       Todas discutiam menos uma. Esta semente bela e robusta declarou solenemente:
       - Podeis continuar a discutir. Fazei como quiserdes. Mas asseguro-vos que, assim tão juntas, crescereis raquíticas. Não quero nada convosco. Sozinha, irei tornar-me numa árvore grande, nobre e imponente.
       Com a ajuda da chuva e do vento, a semente conseguiu afastar-se das suas companheiras e lançar as suas raízes.
       Passadas algumas estações do ano, graças à neve, à chuva, e ao sol, tornou-se num magnífico e jovem abeto. Dominava o vale, enquanto os seus companheiros se tinham tornaram num bosque. Ofereciam sombra e frescura repousante aos caminhantes e aos animais da montanha.
       Isto não significa que os problemas tenham terminado. Havia sempre algum abeto que dizia:
       - Não me toques. Estás a incomodar-me com os teus ramos.
       Outro dizia:
       - Roubas-me o sol. Chega-te para o lado.
       O abeto solitário olhava irónico e soberbo. Ele tinha todo o espaço e o sol que desejava.
       Uma noite, veio uma grande ventania. Seguiu-se uma violenta tempestade. Os abetos apertaram-se uns contra os outros, a tremer, mas a proteger-se e a amparar-se mutuamente.
       Quando a tempestade acalmou, os abetos estavam extenuados, mas salvos. Todos, menos um. Do soberbo abeto não restava senão uns restos do tronco. Tudo tinha desaparecido.

In. Revista Juvenil, n.º 551, janeiro 2012