quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quantas vezes...

...Não fiz o meu irmão feliz;
...Desobedeci ao meu pai e à minha mãe;
...Na escola, deixei de estudar;
...Não respeitei a natureza;
...Por egoísmo, só pensei em mim;
...Não perdoei aos meus amigos;
...Utilizei a violência nas palavras e nos gestos;
...Disse “não”, a quem me pedia ajuda;
...Com mentiras, enganei os meus amigos e os meus pais;
...Na escola, não me apliquei em aprender;
...Em casa, recusei-me a ajudar os meus pais e os meus irmãos;
...Por egoísmo, não partilhei as minhas coisas com os outros;
...Perdi tempo com a televisão e o computador;
...e não cumpri as minhas obrigações de filho e estudante.
in Caminhos de Encontro. Caderno do Aluno, EMRC, 5.º Ano.

sábado, 22 de maio de 2010

A pomba e o ramo de oliveira

       Passaram-se dias e semanas: muito, muito tempo de espera para que Deus agisse e sem nada ver para além de chuva e inundação. Mas Deus não se esquecera de Noé e da sua arca. Por fim, um vento começou a soprar e as águas começaram a descer. Muito lentamente, as águas regressaram aos seus leitos.
       Ao décimo sétimo dia do mês, a arca de Noé estremeceu e parou. Tinha pousado sobre o cimo de uma montanha. Ali, Noé esperou à medida que, um a um, os outros topos de montanhas iam emergindo do dilúvio.
       Mais quarenta dias se passaram. Noé abriu uma janela e soltou um corvo. Este voou e voou mas não regressou, por isso Noé soltou uma pomba. Esta voou durante algum tempo depois regressou e pousou na mão de Noé.
       “Esperemos mais sete dias” – disse Noé, “depois mandamo-la de novo procurar”.
       Da vez seguinte que a pomba saiu, regressou com um ramo de oliveira no seu bico.
       Noé esperou mais sete dias antes de soltar a pomba uma terceira vez. Esta não regressou. Havia encontrado um local para pousar.

Mónica Aleixo, in Voz Jovem, Abril 2010.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O suave milagre

       Nesse tempo Jesus ainda se não afastara da Galileia e das doces, luminosas margens do lago de Tiberíade - mas a nova dos seus milagres penetrara já até Enganim, cidade rica, de muralhas fortes, entre olivais e vinhedos, no país de Issacar.
       Uma tarde um homem de olhos ardentes e deslumbrados passou no fresco vale, e anunciou que um novo profeta, um rabi formoso, percorria os campos e as aldeias da Galileia, predizendo a chegada do Reino de Deus, curando todos os males humanos. (…)
       Ora entre Enganim e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega de um cerro, vivia a esse tempo uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as mulheres de Israel. O seu filhinho único, todo aleijado, passara do magro peito a que ela o criara para os farrapos da enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos passados, mirrando e gemendo.
       Tão longe do povoado, nunca esmola de pão ou mel entrava o portal. (…)
       Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu do seu farnel com a mãe amargurada, e um momento sentado na pedra da lareira, coçando as feridas das pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse rabi que aparecera na Galileia, e de um pão no mesmo cesto fazia sete, e amava todas as criancinhas, e enxugava todos os prantos, e prometia aos pobres um grande e luminoso reino, de abundância maior que a corte de Salomão.
       A mulher escutava, com olhos famintos. E esse doce rabi, esperança dos tristes, onde se encontrava? O mendigo suspirou. Ah esse doce rabi!
       Quantos o desejavam, que se desesperançavam! (...)
       Obed, tão rico, mandara os seus servos por toda a Galileia para que procurassem Jesus, o chamassem com promessas a Enganim; Sétimo, tão soberano, destacara os seus soldados até à costa do mar, para que buscassem Jesus, o conduzissem, por seu mando, a Cesareia. (…) E todos voltavam como derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em que mata ou cidade, em que toca ou palácio, se escondia Jesus.
       A tarde caía. O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, a mãe mais vergada, mais abandonada. E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar de uma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse rabi que amava as criancinhas, ainda as mais pobres, sarava os males, ainda os mais antigos.
       A mãe apertou a cabeça esguedelhada:
       - Oh filho! E como queres que te deixe, e me meta aos caminhos à procura do rabi da Galileia? (...)
       A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
       - Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
       E a mãe, em soluços:
       - Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce rabi. Oh filho! Talvez Jesus morresse…
       Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
       De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
       - Mãe, eu queria ver Jesus…
       E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
       - Aqui estou.

Eça de Queiroz. Contos - O Suave Milagre, in Caminhos de Encontro. Manual de EMRC, 5.º Ano.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um estranho perto de minha casa

       Um velho camponês observava, descontente, um jovem que construía uma cabana perto do seu arrozal.
       - Pergunto-me de onde veio - disse à mulher, nessa mesma noite. - Não é daqui da terra. A julgar pelas roupas, é originário das montanhas. Que vem fazer para aqui? Isto não me agrada nada. Isto não me agrada mesmo nada...
       - Porque não vais cumprimentá-lo amanhã? - Aconselhou a mulher.
       - Dá-lhe as boas vindas. De certeza que não conhece ninguém por estes lados.
       - Nem penses nisso - ripostou o camponês. - Não sabes que os habitantes das montanhas são todos uns ladrões? Ignoremo-lo; com sorte, talvez até se vá embora.
       Todos os dias, o camponês trabalhava no arrozal. Com a água pela barriga das pernas, arrancava as ervas daninhas e punha-as num balde. Uma manhã, descobriu que o balde não estava no sítio do costume.
       - Eu sabia. - Vociferava, enquanto levantava a cama e espreitava por detrás do armário. - Eu sabia. O homem roubou-me. Roubou o meu balde!
       A mulher perguntou-lhe:
       - Quem te roubou o balde?
       - Ora quem! - Sussurrou o homem - O montanhês!
       - Ninguém te roubou nada - assegurou a mulher. - Sabes muito bem que passas a vida a perder tudo. Procura bem o balde e acabarás por encontrá-lo!
       Mas o camponês não lhe deu ouvidos. Saiu de casa à socapa e foi espiar o vizinho. O jovem estrangeiro cuidava tranquilamente das suas tarefas, mas o camponês achou que ele tinha um ar suspeito.
       - Não há dúvida - disse para consigo, semicerrando os olhos enquanto observava o montanhês. - Tem ar de ladrão de baldes, anda como um ladrão de baldes: é um ladrão de baldes!
       - Bom-dia, vizinho - saudou-o o jovem, ao aperceber-se de que o camponês o espreitava por detrás de uma árvore.
       O velho fugiu a correr. Quando chegou junto da mulher, disse-lhe, esbaforido:
       - Estás a ver, até me cumprimenta para que não desconfie dele. É mesmo arrogante! Desafia-me! Ri-se de mim!
       O camponês barricou-se em casa com a mulher, as dez galinhas e os três porcos.
       - Meu pobre amigo - disse-lhe a mulher, abrindo a porta. - Perdeste mesmo a cabeça!
       - Mas - gemeu o camponês - Agora que tem o meu balde, vai querer tudo o que eu tenho. E ainda não te disse tudo - acrescentou o homem, batendo os dentes. - Quando não são ladrões, os montanheses são assassinos!
       A mulher encolheu os ombros e foi dedicar-se às tarefas do dia.
       Ao cair da tarde, o camponês saiu de casa para beber água do poço. E o que viu ele, pousado no parapeito do poço? O seu balde! Lembrava-se agora que tinha ido buscar água para dar de beber aos animais. Tinha-se esquecido completamente de pôr o balde no lugar.
       - Mas - repetia para si mesmo, envergonhado - O montanhês tinha mesmo ar de ladrão...

Johanna Marin Coles & Lydia Maria Marin Ross. O balde. Retirado de Caminhos de Encontro, Manual de EMRC, 5.º Ano