segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Um conto de Natal - Jesus e o Pai Natal

       Quando, há mais de dois mil anos, Jesus nasceu em Belém, surgiu no céu uma estrela muito brilhante dirigindo-se para o local do seu nascimento. Tendo reparado nessa estrela, quatro reis magos decidiram partir dos seus reinos e segui-la para assim visitarem o menino-Deus e lhe oferecerem presentes. Os três primeiros reis chamavam-se Gaspar, Belchior e Baltasar. Como eram ali de perto, demoraram apenas alguns dias a chegar a Belém, e logo ofereceram Ouro, Incenso e Mirra ao menino, o qual os recebeu com uma grande expressão de alegria. O quarto rei mago chamava-se Natal. Vivia no reino da Lapónia, que ficava na região do Pólo Norte, muito, muito longe de Israel, a terra de Jesus. Quando o rei Natal viu a estrela, pediu imediatamente aos seus súbditos que preparassem muitos presentes para que ele os oferecesse pessoalmente ao menino Jesus. E os súbditos assim fizeram. Passados poucos dias, o rei Natal reuniu os presentes num grande saco, despediu-se da família e dos amigos e partiu para Belém.
       Pelo caminho, teve de atravessar muitas terras, florestas, montanhas, rios, mares, grandes cidades e pequenas aldeias. Quando entrava numa povoação, as pessoas, vendo a sua figura, de cabelo e barba branca, e com aquele grande saco, faziam-lhe perguntas, e ele dizia-lhes, entusiasmado, quem era, donde era e ao que ia. As crianças, claro, quando o ouviam dizer que carregava presentes, cercavam-no e diziam-lhe:
       — Ó rei Natal, se trazes aí tantos presentes, dá-me um, um só que seja, por favor!
       Mas o rei Natal estava de tal maneira empenhado e apressado para chegar a Belém e oferecer todos os presentes a Jesus que não ofereceu quaisquer presentes às crianças que lhos pediram pelo caminho. Muito zeloso, respondia-lhes sempre:
       — Não vos posso dar nenhum presente, porque são todos para Jesus. Ele, se quiser, que vos dê algum mais tarde; eu agora não vos posso dar nenhum.
       E continuava o seu longo caminho, com pressa de chegar a Belém.
       Ora, mas quando o rei Natal chegou a Belém, já tinham passado muitos anos desde que Jesus nascera: primeiro, a família de Jesus já tinha fugido para o Egipto e regressado para Nazaré; depois, Jesus já tinha crescido, aprendido a profissão de carpinteiro com S. José e saído de sua casa para ser baptizado por João Baptista no rio Jordão e começar a anunciar o reino de Deus e a fazer milagres; já tinha reunido um grupo de discípulos, com quem percorrera a Galileia, a Samaria e a Judeia e passara a Páscoa em Jerusalém; e já tinha sido acusado pelos fariseus e condenado à morte por Pilatos e ressuscitado três dias depois de ser crucificado.
       O rei Natal, o pobre, veio de tão longe que só chegou a Belém depois de Jesus ressuscitar. E ainda trazia o saco cheio de presentes para o menino Jesus, tal e qual como à saída da Lapónia. Quando perguntou onde vivia Jesus e lhe disseram que já tinha morrido, ficou tão triste que quase se desfez em lágrimas, porque vinha de tão longe, carregado com tantos presentes, e agora não tinha possibilidade de oferecê-los a Jesus. Então, vendo a sua tristeza, o próprio Jesus, o Ressuscitado, veio ter com ele e disse-lhe:
       — Rei Natal, rei Natal, durante trinta e três anos atravessaste o planeta à minha procura e eu estive sempre perto de ti e ao teu lado. Todas as vezes que uma criança te pediu um presente, eu era essa criança, e tu não me viste. Eu pedi-te um só presente e dei-te tantas oportunidades; e tu com esse teu saco cheio de presentes e nem um me deste! Que cego que tu és, amigo Natal!
       Só então o rei Natal compreendeu que Jesus estivera todos os dias com ele durante o seu caminho, e não o reconhecera. E ficou ainda mais triste, e arrependeu-se profundamente e pediu perdão a Jesus. E porque tanto se arrependeu, Jesus perdoou-o e disse-lhe:
       — Amigo Natal, de hoje em diante deixarás de ser rei e passarás a chamar-te Pai Natal, porque serás como um pai para aqueles que te procurarem. Agora, regressa em paz ao teu país e não voltes a recusar um presente a uma criança que to pedir. Vais percorrer o mundo e só pararás quando o teu saco ficar vazio. Não desanimes, porque eu estarei sempre contigo.
       E o Pai Natal ficou feliz ao ouvir aquelas palavras de Jesus e fez como Ele lhe indicou: regressou ao seu reino e nunca mais negou um presente a uma criança. Sempre que lhe pediam um presente, ele dava-o logo, todo satisfeito. E até os pais dos miúdos começaram a pedir presentes, e o bom do Pai Natal também lhos dava. E eis que aconteceu um milagre: quando o Pai Natal chegou à Lapónia, o saco continuava cheio. Apesar dos milhares de presentes que distribuíra, o saco continuava repleto. Era um milagre! Então, lembrou-se das palavras de Jesus quando lhe dizia: «vais percorrer o mundo e só pararás quando o teu saco ficar vazio…»
       Isto passou-se há cerca de dois mil anos. E desde então, sempre que se aproxima o Natal, o Pai Natal sai a percorrer o mundo com o seu grande saco cheio de presentes, oferecendo-os a todos. E no fim regressa feliz e agradecido por reconhecer Jesus habitando o olhar sorridente de cada criança. 

Texto inédito de José António Rocha,
in Nós e o Mundo. (Manual de EMRC). 6.º Ano. SNEC. pp 89-90.

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